sexta-feira, setembro 11, 2009

O piano e o dinheiro bom


Nelson Freire, no concerto que inaugurou o piano Steinway Grand Concert D,
no Theatro Municipal
.
por Cesar Giobbi (Site onne.com)
.
Volto ao assunto, porque acho um absurdo. Na inauguração do novo Steinway Grand Concert D, doado ao Theatro Municipal de São Paulo pela Construtora Odebrecht, o secretário municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil, que eu prezo muito, fez um rápido discurso de agradecimento em que, a tantas horas, disse que era muito significativo e elogiável que a doadora tivesse usado “dinheiro bom”, ou seja, não tivesse usado lei de incentivo para comprar o piano. De fato, poderia ter usado a Lei Rouanet. A declaração deixou o mundo cultural presente de boca aberta. Afinal, o que teria sido dele, nestas últimas décadas, sem as leis de incentivo?
.
Mas esse conceito varia dependendo de que lado da história se está. Quem está no governo, seja ele qual for, prefere que não se usem benefícios fiscais, pois sobra mais dinheiro para o governo usar como quer. Muito frequentemente, mal. A Lei Mendonça, municipal, é exemplo disso. Desde Marta Suplicy que pouca gente consegue usar esta lei, que só não está extinta no papel. E a reforma que o ministro Juca Ferreira pretende fazer na Lei Rouanet, que ainda pode ser rejeitada no Congresso, centraliza praticamente todas as decisões nas mãos do Minc que vira, assim, um poderoso padrinho de viés populista e demagógico.
.
Fora que, nesse momento, no Brasil em que vivemos, o melhor que se tem a fazer é usar todas as leis de incentivos que se puder usar. Ou nosso dinheiro, em vez de ir para a Cultura, para o Esporte, para a benemerência, será usado para dar aumentos ao funcionalismo público, para aumentar o tamanho do Estado, para pagar os cartões corporativos do governo, para farta distribuição a sindicatos e movimentos sociais como o MST, para custear os Legislativos, com todos os ralos de que a imprensa tem falado ultimamente. Ainda mais em ano de campanha eleitoral...
.
Se fosse bem usado, aquele poderia ser chamado de dinheiro bom. Por enquanto, dinheiro bom é aquele que a gente conseguir salvar dessa ciranda oficial, maluca, desonesta e mal intencionada. Falta pouco...

Nenhum comentário: