segunda-feira, setembro 21, 2009

Entrevista com a atriz Fernanda Torres

ISTOÉ - A sra. já usou drogas? Quais?
Fernanda - Comecei com maconha e fui até o pó.
ISTOÉ - Ainda usa?
Fernanda - Parei. Faz um bom tempo. Outro dia comentei isso: só posso fazer essa peça agora porque "vi Jesus" (risos). Sabia que faria essa peça apenas quando não tivesse mais culpa no cartório. Hoje eu posso.
ISTOÉ - Quando parou e o que a fez parar?
Fernanda - Tudo, sei lá. Acho que o que me bateu mais foi a saúde. A sensação que eu tenho é que a gente vai ficando mais velha e se vendo mais mortal. Mas, quando se é novo, queremos experimentar morrer. Quando eu olho para trás, penso: nossa, eu corri tantos riscos de morte na minha juventude. Não me arrisco mais assim. Depois que a gente se torna mãe, então, não quer se arriscar nem na ponte aérea.
ISTOÉ - A sra. subia o morro para comprar droga?
Fernanda - Não, não. Eu sou babona (medrosa).
ISTOÉ - Como a sra. pretende falar sobre drogas com seus filhos?
Fernanda - Acho que o máximo que os pais podem fazer é estabelecer uma relação de amizade. Meus pais fizeram assim: eles não deixavam usar drogas em casa. Sabiam que eu usava. Mas não se falava sobre isso, não se tocava no assunto. Eles eram uma espécie de freio mental.
ISTOÉ - Sua peça faz uma crítica severa às drogas.
Fernanda - Não sei, acho que não. Acho que critica severamente o uso de antidepressivos, a droga da felicidade. Faz uma crítica feroz à cocaína, mas, ao mesmo tempo, fala que as pessoas sempre se drogaram, bebendo, fumando. Nós estávamos em dúvida se a peça seria vista como crítica ou apologia porque resgata a ideia dos anos 60, quando as drogas eram um caminho para o autoconhecimento. O lema era "Seja Marginal, Seja Herói" (obra do artista plástico Hélio Oiticica). O mito do marginal, do revolucionário, era encantador. Eu cresci nessa época. A direita estava no poder e nós tínhamos de fazer o oposto da direita, por princípio. Nas escolas experimentais, onde eu estudei, o refrão era a liberdade para tudo. Hoje ficou diferente.
ISTOÉ - Como é hoje?
Fernanda - Hoje todo mundo é deprimido. Se você tem uma tristeza, logo aparece alguém para aconselhar a tomar um remedinho para ficar bem, para não ficar ansioso. É a geração do Rivotril (tranquilizante). É remédio para regular humor, combater tristeza, emagrecer. Uma vez tomei um emagrecedor e falei: gente, desculpa, mas isso é igual à cocaína. Primeiro, eu fiquei com palpitação no coração e, depois, meio deprimidinha. Fiquei sem fome e excitada e, depois, muito angustiada. Já vi isso antes, só que tinha outro nome: cocaína. Antigamente, todo mundo fazia análise, hoje a psicanálise perdeu para a psiquiatria. Todo mundo tem um psiquiatra, é bipolar, e toda criança é hiperativa. Impressionante. Deve haver outra maneira de resolver nossos problemas que não seja tomando remedinhos, né? Isso eu acho muito sinistro. Marca o nosso tempo...
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Leia a entrevista na íntegra aqui...

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