segunda-feira, julho 27, 2009

"Ó paqui, ó!" - Relatos e desabafos

"Nenhum grupo de turista passa ileso aos pedidos de dinheiro e comida dos garotos que transformam as escadarias das igrejas em residências”, reclama a artesã Aurivone Ferreira, 46 anos, que há dez anos mora no Largo do Pelourinho.
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“A ação dos pedintes é extremamente inconveniente. Eu estava em um bar comendo e quando olhei para trás havia três garotos me pedindo o resto da minha comida”, comenta analista de tecnologia Iracema Andrade, 27 anos, de São Paulo.
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"O Pelourinho é uma ilha cercada de crack por todos os lados. Não temos liberdade de ir e vir em alguns locais por conta da ação dos usuários de crack”, reclama a poetisa Clea Barbosa, que vive na Rua do Passo.
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Os depoimentos acima fazem parte da matéria de Jorge Gauthier (Correio da Bahia). Hoje recebi o relato de uma guia de turismo. Na verdade é mais que um relato, é um desabafo. Leia a seguir.
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Em casa e de volta de uma das piores vivências da história da minha vida! Estou revoltada, doente, injuriada, enojada - de tanta sujeira!
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Estou trabalhando com uma familia (Mavir): 5 pessoas. Hoje, descendo a ladeira do Carmo, a familia foi atacada por um grupo de homens (oito homens) que os cercaram e voaram sobre eles como um bando de urubus na carniça. Hora:16h30! Os homens , bem vestidos e bem calçados, os envolveram e fizeram um "arrastão", levando as duas máquinas digitais e uma corrente de ouro (escondida na camisa). As crianças (10,12,14 anos) entraram em pânico. O garoto que estava com uma das máquinas teve um ataque neurótico; pulava e gritava feito um louco repetindo "levaram minha máquina". A mãe que ficou arranhada no pescoço e de quem levaram a segunda máquina, estava completamente fora de sí. Do marido foi levado uma corrente de ouro com seu nome e seu tipo sanguineo... Também perplexo!
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Como uma das crianças estava em choque, eu tentava envolvê-la com meus braços e acalmá-la, dizendo que nós compraríamos outra máquina etc... Mas a criança pulava desesperada e fora de controle!
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Na solidão do meu desespero, varrí com os olhos na busca por um guarda. Nada. Ninguém! Todos, impassíveis aos gritos de desespero de cinco turistas belgas, e de uma guia tentando gerenciar o seu próprio desespero. Parecia um quadro do tipo "Natureza Morta". Todos aqueles personagnes dos quadrinhos baratos de "naif" que enfeitam e colorem a paisagem das ruas de Salvador, estavam ali: taxistas, vendedores, garçons e proprietários de botequins, passantes moradores, gente sentada nas calçadas, enfim, todos aqueles que (como a maioria de nós) já banalisaram a violência e, impotentes, se bastam à pergunta: "Fazer o que"?
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Fazer o que, se somos comandados por uma raça de ignorantes, de analfabetos funcionais, de patetas que desconhecem totalmente a importância do turismo; que continuam, cada um, no seu limitado quadrado?! Gente cujo único talento é esta indesculpável mediocridade!? Ousados e inescrupulosos, insistem descaradamente, em jogar na nossa retina esse pobre e desbotado retrato 3 X 4 de um turismo rico que eles conseguiram transformar em lixo; e olha que nem precisaram de uma lâmpada de Aladim!

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