quarta-feira, abril 29, 2009

A escuridão procura a luz

por Aninha Franco (Revista Muito - Jornal A Tarde)
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A lucidez é filha da luz, as duas, mulheres rápidas, a mãe mais veloz que a filha. Na velocidade da luz, dizia-se das pessoas e coisas ágeis no século 20, do correio nagô, o mais célere veículo de comunicação da Baía, mais rápido que a tevê e que a rede, adotado pelos blogues, correios nagôs digitados. Quando falta luz, falta lucidez, falta segurança interna e externa porque o medo é filho do escuro, e escuro e medo, sempre juntos, fazem mal à alma. No início do século 20, o teatro oferecia atores, autores, orquestra e dezenas de lâmpadas numa cortesia da Edison, e eu desconfio que grande parte do público ia ao teatro assistir a luz.
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A cidade da Baía tem luz própria, estonteante, talvez por isso o Pelourinho, seu bairro mais belo, andava escuro de atemorizar. Então, coisa de duas semanas, o IPAC deu luz ao Pelourinho em dezenas de lampiões, lindos, pregados nas paredes das casas, com lâmpadas vindas da Alemanha que acendem quando é noite e apagam quando é dia, e alguma coisa mudou. A maniçoba do restaurante Ponto Vital, obra de arte do Recôncavo, é vista por quem sai do estacionamento Sanpark, na Rua das Laranjeiras.
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Quem prefere uma pasta, a de Clécia está clara no restaurante La Figa, ex-restaurante La Lupa, do Chef Narduzzi que, semana passada, esteve lá, pensando e falando em instalar uma escola de gastronomia na Rômulo e Remo, casa da pizza crocante que eu amo, próxima a tudo isso. A malassada de Celina, com ou sem mostarda, está palpável, e até o espanhol que inaugurou restaurante nas cercanias, semana passada, já é visível. Os traficantes continuam vendendo droga pesada nos contornos, talvez porque os que reprimem seu uso, civis, militares, federais, não tenham tido luz pra descobrir os endereços… Agora têm…
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As vítimas do crack, muitas em processo de adicção, nas ruas, ainda não foram vistas pelas Secretarias da Saúde e Reparação e pedem dinheiro. Agora dá pra vê-las. A luz chegou pra mostrar a beleza do Pelourinho que, por falta de luz, não deixará de ser mais aquilo que é, o bairro mais valioso da Baía. Espera-se que, depois da luz, instale-se a lucidez.

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