por João Carlos Magalhães
da Agência Folha, em Belém
Celebrada fora do Pará como uma bem-sucedida alternativa ao antigo mercado fonográfico, mas associada pela elite econômica local ao mau gosto e à criminalidade, a cena das chamadas festas de "aparelhagens" de tecnobrega vê os primeiros sinais de reconhecimento oficial.
Os deputados da Assembleia Legislativa do Pará aprovaram na última terça-feira um projeto que transforma "as aparelhagens e seus signos" em patrimônio cultural do Estado. A decisão ainda precisa ser confirmada em outro turno.
O tecnobrega nasceu na periferia de Belém, com artistas que, marginalizados, não se associaram a gravadoras nem se penduraram nos ganhos com direitos autorais.
Eles resolveram "piratear" a si mesmos, distribuir suas músicas de graça e ganhar dinheiro com shows repletos de efeitos especiais e pirotecnia, feitos pelas "aparelhagens".
Cada uma delas funciona como uma empresa, dona dos equipamentos das festas e dos palcos. Têm fama e seguidores próprios. O custo para contratá-las chega a R$ 30 mil a noite.
"O que é um aparelho? Ele só toca o que os nossos artistas criam", diz o deputado estadual Bosco Gabriel (PSDB). "As 'aparelhagens' levam a uma concentração enorme de promiscuidade, de todos os tipos."
A associação com a ilegalidade levou o governo de Ana Júlia Carepa (PT) a proibir qualquer "aparelhagem" de tocar na periferia de Belém durante o Fórum Social Mundial em 2009, pela segurança dos turistas.
Para Carlos Bordalo (PT), deputado que apresentou o projeto de tombamento, há ainda muito preconceito, como aconteceu com bailes funk no Rio.
Recentemente, quando Gaby Amarantos, famosa cantora de tecnobrega, se apresentou num clube de classe média de Belém com os cariocas do Monobloco, parte do público chegou a pedir o dinheiro do ingresso de volta.
"Esse pessoal curte cultura enlatada", afirma ela.
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