segunda-feira, outubro 13, 2014

E depois eu que sou a coxinha...

por Patricia Guerra (*)

Sabe, tive uma manicure há uns 15 anos atras. Ela vinha fazer minhas unhas as 6 da manha, antes do salão que ela trabalhava abrir, as vezes até trazia o pão. Um belo dia, ela chegou aqui em casa e disse: vou embora da Bahia. E eu: mas menina, porque? E ela, decidida: Isso aqui não vai pra lugar nenhum, vou pra São Paulo. Pois bem, ela, com pouquíssimo estudo, pegou os dois filhos e se picou pra São Paulo. casou a filha, que se tornou enfermeira, o filho mais novo ja tá pra entrar na faculdade, e ela que hoje trabalha no Soho, é disputada a tapa pelas clientes. 
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Além de ter se tornado massoterapeuta. Graça nunca dependeu de bolsa família. baiana retada, que acordava mais cedo que suas colegas pra fazer um dinheirinho extra. Tinha ambição, antes de eu acordar, ficava na cozinha conversando com meu pai. Ouviu, aprendeu, foi lá e mudou. Nasceu pobre, na favela. Negra. Mas fora da curva... 
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O problema não é o benefício do bolsa família. Dizer que não tem chega a ser leviano. O problema dele é a filosofia embutida na manutenção das pessoas na conformidade, na zona de conforto. A ignorância é um lugar muito confortável. Queria eu, não me importar com o que está ao meu redor. Viveria muito mais feliz, com apenas um salario minimo dado pelo governo, tendo garantida minha cervejinha na laje. 
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Faço parte de uma Igreja missionária, que é quem mais tem projetos assistenciais no Brasil. Não tem ONG que bata isso. Mas me lembro de aprender ainda pequena, a frase que define muitos entendimentos das coisas da minha vida: Se queres matar a fome de um homem, dá-lhe peixe. Se quiser mudar sua vida: ensina-lhe a pescar. Tive a oportunidade de conviver durante quatro anos com empresario americano (era babá de suas filhas. Sim, babá!), que contribui socialmente (e politicamente) no seu país e todo ano manda uns 4 milhões de dólares pra Africa, onde ele apoia projetos de saneamento e educação. Naquelas tribos que ninguém nem sabe que existe, financia educação com dinheiro DELE. Aqui o que vejo é a fome está sendo "matada:... mas e educação? Aprendi com meu ex chefe americano (na prática, com dados e conversas) que só se quebra esse ciclo com EDUCAÇÃO. APENAS ISSO. 
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Então, fico meio puta, vendo playboy se dizendo de esquerda, morando no Itaigara e tomando Moet Chandon as custas daqueles que diz defender. Vá pra rua, dar sopa no meio da noite, tirar 100 reais do banco quando você só tiver isso até o fim do mês pra ajudar um pobre desconhecido que neguinho fez bico porque tava sujo e fedido. E depois eu que sou a coxinha. Então... Trocando em miúdos: Vá bater um abacate e depois venha falar comigo.
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Patricia Guerra é Comunicóloga, fotógrafa, curiosa e colaboradora deste Blog

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