domingo, janeiro 23, 2011

O Retiro de São Francisco sob ameaça

por Samuel Celestino (Jornalista)
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De há muito se chama à atenção sobre a tramada negociação da grande área ocupada pela Casa do Retiro de São Francisco, em Brotas, entre a Avenida Waldemar Falcão e o Candeal, uma das mais valorizadas da Bahia. A casa é administrada pelo Núcleo Provincial, cuja sede fica em Recife. Este núcleo estaria comum a dívida em torno de R$ 28 milhões e pretenderia resgatá-la coma venda de um patrimônio que é, essencialmente, baiano. Por ora, nenhuma autoridade do Estado se pronunciou sobre esta causa de importância para a cidade.

O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, também não.

Ele busca investimentos no Sul e não seria justo que desejasse também levar recursos da Bahia, como, aliás, os baianos o fizeram em relação à Ford, que iria se instalar no Rio Grande do Sul. O caso aí, no entanto, é muito diferente.

O então governador gaúcho petista, Olívio Dutra, recusou-se a oferecer vantagens fiscais à montadora e o então governador baiano César Borges, ousadamente, investiu: voou para o Rio Grande e lá negociou com a Ford, sob o protesto da imprensa gaúcha contra Olívio, que não deu ouvido.

Hoje, a Ford comanda um polo automotivo que, infelizmente, gorou. Mas transfere boa parcela de impostos ao tesouro baiano, além de oferecer em torno de 20 mil empregos diretos e indiretos.

A casa do retiro I

Estou a me desviar da campanha para preservar a Casa de Retiro São Francisco. O diretor geral do Ipac, Alexandre Mendonça, lavou as mãos.

Disse, “inocentemente”, que o Retiro “não é referencial para Salvador”. Poderia encontrar saída melhor do que seu disparate.

O Ipac procurou uma saída fácil e, se me permitem, burra. Não faz muito, este mesmo Ipac – Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia – diante de pressões de ex-alunos, tombou para não ser vendido o Colégio Marista, no Canela. Entre o valor do terreno do antigo Maristas, num bairro que já foi, em outros tempos, de elite e sossegado, e o da Casa do Retiro, valorizadíssimo, não há comparação.

As empresas incorporadoras estão ávidas pelo imenso terreno – um belo bosque com árvores centenárias, casa de descanso, trilhas para passeio e capela – para degradá-lo com espigões.

Então, tombar o Maristas que tem importância, não há desenegar, para gerações que lá estudaram, enquanto a Casa do Retiro, não tem? Que diferença há sobre o tal conceito que o Ipac inventou sobre o “referencial para Salvador?”.

Deu a louca no Ipac, ou há gatos miando no telhado da casa de orações? Será que o diretor do Ipac não enxerga que inventou uma saída absurda que não dá para digerir.

Não vê que está numa trilha completamente errada, senão suspeita, por suposição, tendo, no centro, interesses imobiliários? Será que a sua suposta competência e correção não o impelem a compreender que entre o colégio e a casa no máximo há fatores semelhantes, senão favoráveis ao imóvel de Brotas? O ex-diretor do Ipac, Ordep Serra defende o tombamento.

Salvar a Casa do Retiro é uma exigência.

A casa do retiro II

Vou contar uma pequena história.

No início dos anos 70, o banco mais tradicional do Estado, o Banco da Bahia, foi vendido, numa negociação rápida e surpreendente pelo seu principal acionista, Clemente Mariani. O banco era centenário ou quase, orgulho dos baianos. O governador ACM, no seu primeiro mandato, entrou em cena para desfazer o negócio. Não conseguiu.

Em resposta, tomou uma decisão inusitada, marcada por rompante de prepotência e atropelou a legislação.

Retaliou determinando a desapropriação do Morro Clemente Mariani, homem público de conceito nacional, que fica defronte do Iate Clube e do Cemitério dos Ingleses, na Ladeira da Barra.

Houve uma grande repercussão, amplamente favorável ao ato que, segundo o então governador “era para se construir no local um manicômio”.

O que fez de errado, atropelando, hoje Salvador agradece ao governante morto.

Como “boom” imobiliário, a Barra foi ocupada e, como pulmão do bairro, ficaram o Morro desapropriado – que no futuro poderá ser (e já deveria ter sido construído) um belíssimo parque para a população – e o Morro do Gavazza, que ocupa uma extensa área, pertencente à Marinha.

Não fossem os dois pulmões preservados, a Barra hoje seria (aliás, quase já é) absolutamente inabitável.

Quando passo pela Ladeira da Barra olho sempre para o Morro Clemente Mariani, encimado por um belo casarão.

O futuro acabou dando razão a uma medida de retaliação, que sempre me pareceu, e ainda me parece, absurda, embora hoje eu a aceite com alegria e até com uma ponta de agradecimento por amar esta cidade degradada e de gestão desvairada.

A casa do retiro III

Assim, Salvador corre o risco de perder mais um marco da cidade em razão da ameaça que paira sobre a Casa de Retiro São Francisco, administrada pela Ordem Franciscana de Salvador juntamente comas Irmãs Franciscanas, já afastadas da casa. A direção está por conta do Provincial, cuja sede fica em Recife, que estuda a venda do bosque para que nele sejam construídos edifícios que favoreçam, deste modo, à especulação imobiliária e sufocar um pouco mais Salvador.

O Retiro São Francisco foi construído pelo frei Hildebrando Kruthoup em área doada por Norberto Odebrecht, que o construiu sem cobrar um centavo sequer, e foi inauguradanodia6demarço de 1949. Em torno do local há um imenso bosque todo arborizado, denominado Bosque da Via Sacra, onde se encontra a sepultura do frei Hildebrando, cujo busto que adorna a entrada principal também foi doado por Norberto Odebrecht. Não dá para conceber – e aceitar passivamente – mais este crime contra aos valores culturais da cidade do Salvador, que cada vez mais são destruídos pela insaciável especulação imobiliária.

É absolutamente necessário que a Casa do Retiro seja preservada, urgentemente, mediante tombamento a ser feito, ou até, por desapropriação.

Espero que Pernambuco não leve uma parte da Bahia.

2 comentários:

Anônimo disse...

Estou muito preocupada no que diz respeito a venda da casa de retiro SÃO FRANCISCO, aquele lugar, aquele imóvel, aquela estrura não pode ser simplesmente destruida para erguer condominios de luxo, a sociedade baiana tem que que intervir, principalmente a comunidade católica que faz retiro e encontros espiritual, é único lugar que nós católicos temos para nossos encontros. Também deve-se considerar o bosuqe com suas arvores centenária que abriga tantos passaros em suas copas. Vender a casa de RETIRO SÃO FRANCISCO é um crime ecológico, é um desrrespeito com aquele santuário. Por favor diga o que posso fazer para me enganjar nessa luta. Maria do Socorro e-mail: jesus.amigo@yahoo.com.br

Unknown disse...

Vamos nos movimentar!