domingo, setembro 12, 2010

"Tolo é o povo que acredita em ditos vazios"

por Samuel Celestino (*)

A 20 dias das eleições, chega-se ao marco definitório. A pré-campanha e o processo que a antecederam foram mais eletrizantes do que o que até aqui aconteceu, na campanha propriamente dita, tanto na campanha presidencial como na estadual. Esperavam-se maiores emoções, mas, é de supor, - porque assim se afastam o vaticínio e o exercício adivinhatório – que tudo parece estar se definindo antes do tempo. Os candidatos são bons? Não se trata de responder tal resposta. A definição da eleição, se for confirmada tomando o atual momento como marco zero, chama-se Lula. Dizendo muitas bobagens, algumas verdades e usando ao extremo o seu poder de persuasão.

Em discurso neste final de semana, em Ribeirão Preto, Lula entendeu de chamar Dilma de “heroína”. Heroína de quê. Não faz muito, Jaques Wagner, aqui na Bahia, também exagerou nos mimos à candidata e a comparou com as nossas heroínas da luta libertadora do 2 de Julho, Maria Quitéria e Joana Angélica, e, se não bastasse, a beatificou, pré-processo para a santificação, também a comparando com a Irmã Dulce. Os católicos não gostaram e os historiadores se arrepiaram. Tolo é o povo que acredita em ditos vazios.

No nacional, esperava-se que Serra e Dilma entrassem em curto circuito, em processo galvanizante, mas aconteceu justamente o contrário. Serra, que tinha boa vantagem inicial. Foi atropelado por Lula que colocou sua criação a muitos pontos à frente. Quem sabe o que a candidata do presidente pensa. Vou ser generoso: poucos. No interior baiano, até seu nome não se dá importância. Responde-se: “Vou votar na mulher do Lula”. Não, não é Marisa Letícia. Sobre esta a história nunca saberá o que pensa, porque a boca não abre. Apenas, estoicamente, acompanha o marido, sem nada dizer para que não haja também registro do timbre da sua voz.

Lula fala por Dilma, pensa por ela, pensa além dela. Ele é político na mais pura essência; ela é uma tecnocrata que nada tem a ver com o PT. É neófita na legenda, o que leva a crer que, se alguns arrogantes chefes de voto do passado estavam certos quando afirmavam prepotentes (na Bahia tem exemplo), que elegeriam, se quisessem, “um poste”. Conclui-se, assim posto, que um poste também pode ter registro numa legenda política. Com número de candidatura e tudo o mais.

Só uma catástrofe de grandes proporções tira Dilma Rousseff do Palácio do Planalto quando, então, ela terá que assumir o seu papel e, certamente, enfrentará, creio eu, dificuldades nas negociações político-congressuais. Até e, principalmente, com os seus maiores aliados da campanha, entre eles o PMDB, que levará para o Palácio do Jaburu, como vice, o seu presidente (licenciado), Michel Temer - (ACM chamava-o de “Mordomo de casa de terror”) - um político posto à margem da campanha com uma exclusiva missão: ser mudo.

Até que ponto ele, Temer, e o seu partido ficarão mudos a partir de 2011, se as suposições eleitorais estiverem corretas? Ora, o silêncio não faz parte do perfil do partido; não condiz com a sua história pantagruélica (palavra derivada de um personagem de Rabelais, um glutão que ficou na história da literatura), ávida por cargos públicos, de ética duvidosa. O PMDB, ao chegar ao governo, vai sentar-se à mesa, esmurrar a madeira e pedir os pratos que tem direito, certamente os mais apetitosos em orçamento, cargos e poder.

O que Dilma fará? Quem a orientará? José Dirceu? Lula, por telefone, ou em contatos feitos fora do palácio? Afinal, quem conhece Dilma a não ser Luis Inácio Lula da Silva? Quantas pessoas serão capazes nesta república dos trópicos dizer que a conhece? Que sabe o que ela pensa? Lula, com certeza, faz de conta que sabe. Se chegar ao posto que queira, torce-se que haja com dignidade e capacidade de gerir, porque o Brasil precisa, como o IBGE começa a revelar no seu censo.

A revista britânica The Economist avalia “que o maior constrangimento de Dilma num eventual governo deve vir "de dentro". Explica o que já coloquei acima: “Ela se filiou ao PT somente em 2001 e não cresceu dentro do partido, pois sua candidatura foi imposta por Lula. “Os principais parceiros da coalizão do PT já estão falando sobre os ministérios que esperam obter.” O PMDB nega que já esteja pensando na galinha-gorda. Vá lá que não expresse, mas já está pensando, sim, e marcando nomes.

Daqui, já registrei em análise que se eleita for, ela experimentará problemas internos, não da oposição que estará em processo de rearrumação, reflexões, ou a se perguntar onde errou e por que errou. Portanto, creio também que sua dor de cabeça virá, a princípio, “de dentro” e não se deve afastar a possibilidade de choques, enfim, o conhecido fogo-amigo.

Já na Bahia (e em outras unidades federativas) Lula está fazendo o mesmo. Esperava-se, aqui, uma campanha renhida. O presidente empurrou Wagner, o faz também em relação aos candidatos ao Senado, que disparam para vencer, ainda supostamente, no primeiro turno. E bem. Paulo Souto demonstra que perdeu o fôlego e Geddel Vieira Lima está à beira do caminho, chupando laranja podre. Acreditou no conto dos dois palanques.

Foi ludibriado porque, o PT é o PT , e as demais legendas, não se enganem, são adversárias. Desse modo, a campanha transcorre morníssima, enfadonha, enfim, sonolenta e sem graça. Assim como no plano nacional, só um terremoto muda as coisas. Olha, estou para ver tantas empáfias, mentiras e, macunaímicamente, vivo cansado de tanta lengalenga que só me conduz ao enfado.

(*) Samuel Celestino é jornalista, comentarista político, empresário e ex-presidente da ABI (Associação Bahiana de Imprensa).

PS. A foto ilustrativa (Blog do Bastos) não consta no original do texto veiculado no Bahia Notícias e Jornal A Tarde, cujo o título é "Uma Campanha Enfadonha".

8 comentários:

Anônimo disse...

Vinicius
Já tinha lido este texto de Samuel e outros de igual teor.Minha posição é de discordância em 100% dele e dos outros, principalmente os que tem chegado até a mim de outras fontes, onde predomina a ofensa e o preconceito.Não constroem, não são educativos, não discutem propostas ou saidas para os diversos problemas brasileiros. Infelizmente a política brasileira virou tão somente caça aos escandalos de parte a parte.Saudades de Mário Covas, Ulysses Guimarães, Darcy Ribeiro entre outros que já se foram e que eu não lembro agora.
abraços

Manoel Trajano - www.twitter.com/manoeltrajano disse...

SEM COMENTÁRIOS...

Manoel Trajano - www.twitter.com/manoeltrajano disse...

SEM COMENTÁRIOS...

Anônimo disse...

Perfeito o post. É o retrato atual da política em nosso Estado e país. Muito arriscado e perigoso darmos um voto em alguém sem identidade. Torço para que haja o 2º turno.
Wania - uma brasileira na bolívia

Carlos Cunha disse...

Acho que para que a democracia prevaleça, se faz necessário o segundo turno! Respeito muito o trabalho de Lula pelo nosso país, mas não acho justo ele tentar influênciar a vontade do povo! Aqui na Bahia, Jaques Wagner fez um péssimo governo, no entanto, tem a máquina do estado nas mãos e investe pesado em propagandas que não condizem com a realidade vivida pelos baianos! E ainda tem Lula como garoto propaganda!

Alessandra disse...

Precisamos lembrar pelo histórico político brasileiro que ñ podemos aceitar passivamente as predileções dos nossos preferidos. Lula foi um ótimo presidente, que soube organizar e priorizou setores dos governos que até então estavam ao descaso. Mas acho que ele não tem noção suficiente do que acontece em todos os estados, principalmente quando o resultado designado às verbas que ele concedeu é maquiado, como aqui na Bahia. Jaques Wagner vende uma Bahia que não existe. E governou arbitrariamente o estado. Lula não tem conhecimento do verdadeiro governador que tenta nos vender.

Marcos Salles disse...

Não tenho conhecimento do aspecto nacional. Mas a Barra que Lula está forçando tentando empurrar Jaques Wagner guela a baixo dos baianos é preocupante e pega muito mal. A Bahia se sente "feita de idiota", é assim que eu me sinto. Lula como cabo eleitoral de Wagner. E Wagner como um dos piores governadores que esse estado já viu!

Marisa disse...

Wagner governou muito mal a Bahia, não acredito que ele seja reeleito, mesmo com Lula como seu cabo eleitoral.